sábado, 5 de fevereiro de 2011

O sertão que vive em mim

O sertão que vive em mim é tão quente quanto o sertão do meu Estado. Na verdade uma quentura diferente, o quente está relacionado com o calor humano, o calor de pessoas que ainda se olham, ainda se tocam, ainda se curtem pelo simples fato de serem gente. Recentemente, passei uns dias no sertão, neste ai de cima e noutro que geograficamente é situado bem no meio de Pernambuco: Serra Talhada. Foram alguns dias, dias que pude observar, interagir, viver uma vida diferente; junto de um povo “quente”. Sou agrestina de nascença, gosto muito de ser do agreste, mas fui morar na Capital, em tenra idade, ou melhor, na mãe da Capital, Olinda. E entre vindas e idas em outros Estados, Olinda Holanda é a minha referência. E falo isso para que entendam um pouco de mim e um pouco deste Estado. O sertão como muitos conhecem é uma terra seca, Serra Talhada em especial é conhecida por ser a terra de Lampião e minha quase consangüínea Maria Bonita. Lugar de gente braba, valente e destemida. É certo. Mas como toda regra tem sua exceção, a exceção aqui é maior que a regra. E como já disse o quente aqui são as pessoas. A lista seria extensa, pois como boa observadora que sou, estes dias eu me danei a conhecer gente: taxistas, dona de bar, manicure/artista plástica, cabeleireira, atendentes de lojas, donos de lojas e outros estabelecimentos. Parei para conversar com essa gente. A manicure chama-se Nice, uma menina, num corpo de senhora, uma moça ainda sonhadora, pura e doce. Alguém que jamais esquecerei e que um dia cumprirei a promessa de levá-la para conhecer o mar. Nunca havia visto a doçura em pessoa e vi nela. Já havia visto o poder em pessoa. Enquanto fazia minhas unhas, vi um quadro pintado à óleo e perguntei quem havia pintado, eis que aquela senhorinha diz que é dela. E começa a me mostrar outras pinturas em azulejos. Paisagens lindas do sertão, nada macabro com morte, não! Pura poesia: um Sol avermelhado, uma terra alaranjada, árvores, cactus, vida. E em meio a essas paisagens surgiram paisagens do mar, de um mar que ela só conhece via televisão, via sua imaginação de menina. Daí minha promessa de levá-la ao mar. Prestei bastante atenção nela e ela em mim, de forma que não nos perderemos. Já andei muito por ai, mas sempre o zelo pelo que se vende, pelo que se presta é o que me chama atenção, assim como a falta dele também me chama muito a atenção. O taxista, os taxistas que peguei, todos eles se preocuparam em me oferecer algum tipo de informação adicional. Até o sino da Igreja foi impecável, tocando sempre de meia em meia hora. E às dezoito horas cantarola a Ave Maria, que soa como uma ordem para a cidade se acalmar, descansar, relaxar, adormecer. Posso não ter nascido aqui, nem ter vivido aqui, mas o meu sertão será para sempre este que descrevi: quente de aconchego. Diferente dos miseres que gostam de propagar. Vi faculdades, eu vi lojas bonitas, pessoas bonitas (muitas Misses pernambucanas nasceram nas bandas de cá), vi rotinas nem mais nem menos exaustivas que as de outra cidade, pois há de existir estresse sim, por que não? Se um dia precisarem passar pelo sertão de Pernambuco passem sem medo. Almocem no Bar da Gabriela, fica na Rua da Igreja, ela serve a cidade há 29 anos e seu bar tem uma decoração ímpar, as peças retratam a forte Gabriela. Se precisarem de alguma informação, de algum apoio conte com Ronaldo, esposo de Angelica, é fácil de achá-lo, todos o conhecem, pessoa popular, de boa índole. Arrumem seus cabelos em Cleide, fica no centro, numa galeria charmosa. Visitem o museu, também no centro e onde poderão ler histórias e ver fortes fotos de Lampião e sua Dama. Comam um bode no Restaurante do Rudney. Dêem uma volta no açude da Borborema. E claro, procurem Nice, se não for para fazer as unhas, peçam para ver seus azulejos. Ela mora como toda moça de conto de fadas, numa rua sem saída, próximo ao Detran. Bem, o relato é apenas parte do meu compromisso de fazer parte de tudo aquilo que passa por mim. Até breve, Serra Talhada, sertão quente do meu Pernambuco.

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